Bastidores da reportagem sobre os estudantes da Barão de Mauá

Uma das garotas se destacava naquele plantão policial em pleno sábado de manhã. Loira e bem arrumada, não saía do celular e olhava feio para a imprensa. Outras como ela foram chegando ao longo da manhã. Eram as amigas dos estudantes de medicina da universidade Barão de Mauá, que estão sendo acusados de agredir e chamar de "negro" o senhor Geraldo Garcia, auxiliar de serviços gerais, enquanto ele ia para o trabalho de bicicleta. Já os três estudantes voltavam de uma festa. Garcia disse que os meninos, em um Fox preto, passaram por ele por volta das seis horas da manhã, reduziram a marcha do carro e com o tapete do carro enrolado lhe acertaram as costas e disseram "vai, seu negro." Garcia caiu da bicicleta e machucou as mãos, sem contar a humilhação. Os meninos bem que tentaram fugir, mas os seguranças de um posto de gasolina viram o que tinha acontecido, seguiram os estudantes e conseguiram fazer com que eles parassem o carro e lá ficassem, até a polícia chegar. "Vocês estão todos aqui só porque a gente tem dinheiro. Já vi coisas piores acontecerem e a imprensa não apareceu. Ridículos vocês aqui", disse àquela garota que olhava feio para a imprensa a cada cinco minutos. Isso sem contar o advogado dos rapazes (daqueles que ficam na delegacia esperando algo acontecer). O advogado, ao ser questionado por mim, se era ele quem estava defendendo os estudantes, respondeu de forma grosseira e alta: "Não, não, sou professor de filosofia. É óbvio que sou o advogado. Para perguntas ignorantes, respostas ignorantes. " Ainda sem entender o motivo da ignorância do advogado, lhe disse que pelo o que eu sabia ele nem era nem um advogado suficientemente conhecido para que as pessoas o reconhecessem pelas ruas. Nenhum Marcio Thomaz Bastos. Enquanto isso, as meninas iam e vinham com garrafas de coca-cola e salgadinhos para os detidos, que aguardavam para depor e depois serem transferidos para as celas da cadeia. Os últimos ítens trazidos foram lençois, utilizados para cobrir o rosto dos agressores para que eles não fossem reconhecidos pelas imprensa. A mais nervosa não saía do celular e não se cansava de repetir que o tio de um deles é juíz. Um dos parentes chegou de avião em Ribeirão para tirar o filho da cadeia.  A última informação é que a mãe de um deles encaminhou um email para o Movimento Negro de Ribeirão e se desculpou pelo filho. Os outros pais ainda não se manifestaram. Os meninos só ficaram 12 horas presos. As meninas continuam achando que coisas piores já aconteceram por aí e que só cobríamos o caso porque, como ela disse, têm dinheiro. É, pois é.

2 comentários:

Unknown 4 de janeiro de 2010 às 11:31  

Nossa gente...enquanto houver pessoas como essas que agridem outros (não import a cor, idade, sexo ou situação financeira)..somente pelo simples fato de acharem "legal", nosso país não irá para frente. E ainda mais com os amigos achando que eles eram uns coitadinhos, que nao fizeram nada de mau, e usam a desculpa de terem dinheiro. Como se o dinheiro permitisse tudo.

Lívia Komar 29 de setembro de 2010 às 20:02  

O meu coméntário sobre esse assunto é NOJO. Tenho nojo de pessoas que humilham seus semelhantes, tenho nojo de pessoas sem discernimento entre o certo e o errado, tenho nojo de quem se considera acima de tudo e de todos por ter mais dinheiro ou ser sobrinha de um juiz. Para mim, a mocinha bem arrumada que estava menosprezando a imprensa é tão cruel qto os três pseudo-estudantes de medicina que ainda têm muito o que aprender na vida além de seus talquinhos nas bundinhas alvas e leitinhos tipo A.
Quem não consegue enxergar que as atitudes dos três filhinhos de papai foram crimonosas, merece algumas aulinhas sobre direitos humanos.
Nojo!

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