Sem máquina de café: é tudo culpa da crise

Tiraram a nossa máquina de café. Culpa da turbulência econômica internacional e do consumo excessivo da bebida sagrada pelos jornalistas. Diretoria continuou com a máquina. Deve ser porque eles não bebem tanto café assim. Nos presentearam com o cafézinho da máquina Melitta. Caseiro, muito melhor

Demitiram dois repórteres de uma equipe de seis. Culpa da turbulência econômica internacional.

Com a equipe reduzida, a redação é informada de que o número de páginas do jornal iria aumentar durante a semana e no domingo também. Por causa da turbulência econômica internacional, o bendito impresso precisaria ficar com mais volume, para atrair mais anunciantes e mais assinaturas

Sem café e sem repórter, jornalistas seguiram produzindo um jornal mais robusto

Pediram para diminuir a quantidade do banco de horas. Pediram para diminuir o valor gasto com táxi. Pediram um suplemento especial de Imóveis, Mulher, Aniversário, Condomínios, Empregos, Educação. Pediram para não ter erros nas matérias. Pediram para tomar mais cuidado com coluna social. Pediram para otimizar as funções. Pediram para não publicar matéria que falava mal do fulano e do ciclano para não perder o anunciante. Pediram mais cautela. Pediram para não viajar muito para economizar a gasolina e o pedágio. Pediram para não deixar jornais esparramados em cima da mesa. Pediram para organizar as mesas. Vetaram congressos. Vetaram verbas para cursos. Vetaram aumento para os funcionários. Contrataram mais contatos para a publicidade.

Jornalistas seguem fazendo três pautas por dia, tomando cuidado para não gastar muito com o táxi, não ultrapassar o banco de horas, não escrever o nome do fulano ou do ciclano, não falar mal do fulano ou do ciclano. E os jornalistas seguem fazendo três pautas por dia, sem previsão de aumento, sem coragem de pedir para participar de um congresso, sem vontade, sem viagem e sem café. E os jornalistas continuam fazendo três pautas por dia e sendo obrigados a engolir tudo. Sem se manifestar, sem reclamar. Tudo normal. Porque jornalista se acostuma com tudo. É isso ou nada.

5 comentários:

Gabriela Yamada 24 de junho de 2010 às 12:40  

Não diria que sem se indignar. Mas sem perspectiva e sem vontade de ficar, isso sim...

Gabriela Yamada 24 de junho de 2010 às 16:17  

Não, relaxa, eu entendi. De uma certa forma, vc acabou desabafando por mim tb, sabe.
Eu queria é que minhas férias durassem mais uns seis meses ou que eu ganhasse na Mega Sena de uma vez. É difícil quando a gente se vê assim, parece que não vê uma luz...

Flávia Romanelli 24 de junho de 2010 às 16:38  

Que dureza hein! Essa crise agora justifica tudo né?

Bjão e saudade de vcs

marina aranha 25 de junho de 2010 às 23:47  

outro dia falei pro luís: achei que quando chegasse numa redação pela primeira vez, meus chefes iam ser velhos corocos e eu só iria me foder.
me fodo um pouco, é verdade. mas conheci vcs.
às vezes eu acho que são novos pra estarem onde estão. e que eu jamais vou conseguir fazer o mesmo com a idade que vcs têm.
sei lá, na minha recente visão desse tal de jornalismo, esses aí, que sobrevivem a mudanças na logística, são bons. e fecham quantas páginas for preciso - mesmo tomando cada vez menos café.

JOBA 28 de junho de 2010 às 12:10  

E você, sempre corajosa! Se a classe fosse um pouco mais unida... aí sim! beijão

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