Não é a casa da sogra, mas parece!

Dias antes da minha cirurgia no joelho descobri que precisava ir ao Detran o mais rápido possível e tentar resolver tudo num dia só, pois se esperasse a operação e a minha posterior recuperação, o documento venceria e eu estaria bem mais ferrada do que você possa imaginar. Fui à luta e preparada para o que desse e viesse.

O calor naquele dia era do Senegal - como se isso fosse muita novidade no sertão. Quando cheguei perto da porta de blindex do Detran reparei na quantidade de mãos que já tinham empurrado aquela porta em direção ao inferno. Um olhar um pouco mais atento e vi que a fila para retirar a senha, que te direcionaria para para outra fila tinha umas cinquenta pessoas. Respirei e fui. O ar condicionado estava ligado, mas com a quantidade de gente lá dentro era grande o número de pessoas que se abanavam e suavam. Me recuso a mencionar o cheiro de gente naquele ambiente. Que isso fique por conta da imaginação de vocês.

As pessoas falavam alto e reclamavam da demora, dos espertos que tentavam furar fila ao fingir conhecer um fulano qualquer que estava entre os dez primeiros e que nem no banheiro elas poderiam ir porque perderiam o lugar. Um idoso reclamava da falta de atendimento preferencial. Continuei tentando não me impressionar para não estressar. Meu lugar na fila era o de número 52, pelo o que pude contar. Eis que de repente surge um sujeito grande e largo, com cara de quem ocupa o mesmo posto público desde a adolescência, e bate palmas para chamar a atenção. Quando todos olham para ele, começa o show do portador da síndrome do porteiro de boate.

O tal funcionário do Detran começa a dar uma lição de moral naquele povaréu que aguardava por atendimento. Em alto e bom tom, o sujeito pede que as pessoas falem mais baixo, pois estavam atrapalhando o trabalho dos funcionários. Sem educação, o cara com camisa justa onde os botões estavam loucos para pular dali, pedia mais educação. Não me contive e gargalhei, sem acreditar que a multidão que ali suava estava tomando bronca de um desconhecido qualquer. Quando todos baixaram o tom de voz, ele olhou para a colega do lado e disse: esse povo tá pensando que aqui é a casa da sogra? Pode até não ser, pensei, mas que parece, parece.

2 comentários:

Lívia Komar 14 de dezembro de 2010 às 14:15  

O Brasil é uma grande casa da sogra.
O Detran, a matriz dela.

Rudy 22 de dezembro de 2010 às 12:25  

Como eles poderiam continuar jogando paciência (jogo) se vocês ficassem lá falando tão alto, pô??????

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Jornalista. Ardida. Gosta de livros, música, Mafalda, São Jorge, sorvete, corrida e bicicleta. Canta sozinha na rua e conta helicópteros no céu.

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