Pelo menos foi o que o seu Antunes me disse


Duas irmãs visitavam a família e passavam férias na Paraíba. Era agosto de 2011. A cunhada precisou voltar porque o marido teve um AVC. Em dois dias conseguiu chegar em São Paulo. No terceiro dia, o pai morreu, lá na Paraíba. Mas não deu tempo de ela voltar para o enterro e também precisava cuidar do marido, que continuava internado. Vinte e oito dias depois, o marido morreu. Mas pelo menos dessa vez ela estava presente para o enterro. Em 2013, ela voltou para a Paraíba, novamente acompanhada da irmã. Queria tirar as férias que não conseguiu em 2011. No meio das férias, ela precisou voltar de novo para São Paulo. O filho foi internado às pressas com uma infecção generalizada. Tem vinte e seis anos. Mas é mirradinho, sabe? Pelo menos foi que o seu Antunes me disse no curto trajeto de carro entre a Vila Mariana e o Paraíso. Antunes, católico, pensa até que chegou a hora de procurar um terreiro de umbanda para tirar a ziquezira. Ele diz que sofre pela cunhada e sofre pela mulher, que sé só lamentação por causa dos percalços da vida da irmã. As duas nunca se desgrudaram desde o nascimento. Gêmeas. Unha e carne. Pelo menos foi o que ele me disse. Talvez se o sobrinho fosse forte como um touro, Antunes tivesse mais fé que ele sairia dessa e a cunhada poderia voltar para a Paraíba e tentar mais uma vez descansar sem ter de pensar sempre no pior. Pelo menos foi isso o que Antunes me disse naquela corrida de táxi que não ultrapassou R$ 11.

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Jornalista. Ardida. Gosta de livros, música, Mafalda, São Jorge, sorvete, corrida e bicicleta. Canta sozinha na rua e conta helicópteros no céu.

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