De carona no guarda-chuva de uma desconhecida

Sem guarda-chuva, não conseguia imaginar como sairia dali. Pegar um táxi? Nem pensar. Sairia R$ 30 pelo menos e de metrô só R$ 2,90. Mas para ir até a estação mais próxima eu ficaria ensopada. Fato. Eu saio com guarda-chuva todos os dias mas, justo ontem, ficou em cima do sofá. É sempre assim.

Esperei, esperei, esperei e a chuva, apesar de ter diminuído, não cessava. Vou encarar, pensei. De onde estou até a Avenida Paulista são só seis quarteirões. E é possível me proteger nas marquises das lojas. Quer uma carona? Me perguntou um senhor que também deixava o mesmo local. Quero, pensei. Mas não devo, disse a minha consciência. Dez segundos depois, respondi: Não. Obrigada. Obrigada, mesmo.

Tirei o óculos de grau para conseguir enxergar melhor e fui ladeira acima. Parada em uma esquina, esperando o semáforo de pedestres abrir, apareceu uma garota com um guarda-chuva preto enorme, daqueles que não deixa molhar o pé na pior das tempestades. A invejei por alguns segundos e acho que dei na cara. Quer uma carona? Ela perguntou. Quero. Respondi na hora. E lá fomos nós até a estação Trianon.

Ela me contou que foi o porteiro do prédio onde ela trabalhava que havia emprestado o guarda-chuva. Uma mão lavando a outra, disse a ela. Na estação, já abrigada da chuva, agradeci e comentei que em uma cidade como São Paulo, às 22h, era bom encontrar pessoas como ela por aí. Ela, então, decidiu me contar uma história:


- Há uns dias eu estava sem nenhum dinheiro e estava com muita fome. Mas não gosto de pedir dinheiro emprestado. Minha amiga percebeu o que estava acontecendo, mas também não podia me ajudar. Decidi ir embora para casa. Quando decidi a escadaria do metrô encontrei R$ 10 todo emboladinho caído no chão. Peguei o dinheiro, comprei um sanduíche, tomei um suco e voltei pra casa. Naquele dia, alguém lavou a minha mão sem saber.

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Jornalista. Ardida. Gosta de livros, música, Mafalda, São Jorge, sorvete, corrida e bicicleta. Canta sozinha na rua e conta helicópteros no céu.

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