Eu só descobri o nome dela um mês antes de ela morrer. Moramos dois anos no mesmo andar e o fato de eu não saber como se chamava a minha vizinha sempre me incomodou, como eu já contei por aqui em texto anterior. Isso mudou em um sábado à tarde quando, ao precisarem de ajuda, fui acionada. A minha vizinha estava escorregando da cadeira de rodas e precisavam de auxílio para posicioná-la corretamente. Nunca tinha feito isso antes e tentei a puxar pelos braços. Ela pediu para eu parar, pois sentia uma forte dor nos ombros. Culpa de não exercitar o braço direito na fisioterapia, foi o que ela me disse. Estava tomando remédios para o alívio da dor, mas não estava adiantando muito.
Quando a morte bate na porta ao lado
Como conheci Marcela
Como conheci Marcela: Ela caminhava na esteira da Linha Amarela com pressa. Carregava livros, cadernos e, em cada ombro, uma bolsa estava pendurada. Sem contar o guarda-chuva, que pingava, e ela o ajustou entre o braço e o corpo e tentava desviar da água que escorria dele para não molhar o sapato. Mas molhou. Quando a vi saindo do metrô pensei que ela poderia ser eu, pois eu com frequência andava cheia de coisas e sempre me arrependia de ser assim quando eu precisava entrar no trem, no ônibus ou simplesmente dar uma caminhada mais longa.
Enquanto Marcela passava pela esteira para fazer a baldeação com a Linha Verde eu fazia a mesma coisa, mas eu estava atrás dela e a observando. Foi quando uma pessoa com mais pressa que Marcela esbarrou nela e todas as coisas de Marcela caíram no chão. Marcela se desequilibrou e também caiu.
Ela se levantou rápido, meio com vergonha, meio com raiva. Quando você já caiu em público fica fácil identificar o sentimento da Marcela e sabe do que estou falando sobre se levantar rápido e querer sair daquele lugar correndo, mesmo que esteja toda machucada. Eu pelo menos sei bem o que é isso. Aparentemente Marcela não estava machucada, só mesmo com vergonha. E com raiva. Loira, ficou vermelha como uma pimenta.
Marcela não precisou da minha ajuda para se levantar, mas precisou da minha ajuda para recolher as coisas dela que caíram e se espalharam. Só não deu para salvar o batom, pois outra pessoa, que também estava com pressa, pisou nele sem nem notar Marcela.
Marcela arrumou os livros novamente, pendurou as duas bolsas - uma em cada ombro - ajustou o guarda-chuva, me agradeceu e disse que já estava acostumada: Não era a primeira vez que ela caía em público. "Qual o seu nome?, perguntou. "Maria Fernanda e o seu?" "Marcela". "Prazer Marcela. Boa sorte aí até chegar em casa."
Nos despedimos e cada uma tomou o seu rumo. Cheguei a pensar que a Marcela, na verdade, poderia se chamar Maria Fernanda. Ou eu poderia me chamar Marcela.
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