Vida de Escritor

Gay Talese assistiu ao final da copa feminina de futebol entre EUA e China, em 1999, pela televisão, enquanto a sua mulher estava trancada no andar de cima da casa cuidando da edição de livros de outros escritores, que não ele. O jogo foi para a prorrogação e depois para os pênaltis. As chinesas, consideradas as favoritas, perderam um pênalti e as americanas venceram. A matéria? Enquanto todos falavam da vitória das americanas, Talese lembrou de como a chinesa responsável pela derrota seria recebida em seu país de origem. Seria cobrada pelos seus pais? Alguém a esperaria no aeroporto? Pegou o avião e foi pra lá, sem entender muito bem porque estava tão preocupado com a tal chinesa, que praticamente se tornou sua musa, criada desde a infância para não envergonhar o seu país.
Confesso que sou um tanto quanto avessa ao tal do jornalismo literário. Gosto mesmo é de ir no lide. "Simples, assim", como diria um dos meus primeiros editores, quando ainda era uma foca lá no Jornal de Piracicaba. Mas, começo a acreditar que sempre tive uma visão conturbada sobre o que é jornalismo literário. Deve ser porque a maioria das pessoas que conheci e que se intitulam adeptas do "new jornalism" não tinha talento para a coisa. Quem não sabe escrever lide, não sabe fazer um bom texto, mas ainda assim há repórteres que acham que isso é possível. Então, caem no piegas, na redação de oitava série: "chovia ontem", "o sol refletia na água do mar", coisas desse tipo. Aí não dá!!!! Mas, lendo o Vida de Escritor, do Gay Talese, confesso que começo a enxergar de outra maneira. Não é o texto rebuscado, florido, que faz o jornalismo literário. É outra coisa. É preciso ter vocabulário, enxergar além, entender das coisas.

4 comentários:

André 29 de setembro de 2009 às 14:47  

"É preciso ter vocabulário, enxergar além, entender das coisas."

1- experiência e amadurecimento profissional/ pessoal

2- Cada dia mais dificil "entender das coisas" por conta da velocidade da informação. Quem lê no Brasil? Nem jornal a gente le inteiro. Poucos se aprofundam num assunto ou discutem um tema mais que 10 min., tempo de um bloco de programa de tv. Somos, afinal, só manchetes! E muito imediatismo.

Flávia Romanelli 30 de setembro de 2009 às 16:07  

Adorei a surpresa, seja bem-vinda!

Beijão

Dedopreto 30 de setembro de 2009 às 20:23  

Me lembro bem de um fotógrafo que dizia o seguinte: passo horas vendo uma paisagem, com o tempo meu foco vai se fechando, se fechando, até que depois de horas, consigo fazer a foto da abelha pousando. Isso é jornalismo literário: foco.
Beijo e boa sorte!

Unknown 14 de outubro de 2009 às 14:54  

imersão na realidade, digressão, simbolismo, voz autoral (não é necessariamente 1ª pessoa!!), estilo, humanização e, pasme!, objetividade. isso é JL. talese, hersey, e outros contam melhor isso... é possível, irmã. é possível.

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Jornalista. Ardida. Gosta de livros, música, Mafalda, São Jorge, sorvete, corrida e bicicleta. Canta sozinha na rua e conta helicópteros no céu.

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